Arquivo do blog
O Movimento Mobiliza UEG consiste num movimento unificado de professores, estudantes e funcionários técnico-administrativos da Universidade Estadual de Goiás, espontâneo, independente, não institucionalizado, não hierarquizado e que adota como estratégia de atuação a ação direta. Seu objetivo é intervir no processo de construção da UEG com a finalidade de torná-la, de fato, uma universidade pública, gratuita, autônoma e democrática, capaz de cumprir o seu papel enquanto instituição de educação superior, produtora e socializadora de conhecimentos que contribuam para o bem-estar da sociedade goiana, em particular, da sociedade brasileira, em geral, e, quiçá, de toda a humanidade, primando pela qualidade reconhecida social e academicamente.
Pesquisar este blog
Total de visualizações de página
Translate
Lista de Links
sábado, 23 de novembro de 2013
Dossiê UEG Porangatu - Relato dos mandos e desmandos de uma gestão no Norte de Goiás
Dossiê UEG Porangatu - Relato
dos mandos e desmandos de uma gestão no Norte de Goiás
Introdução
O recente contexto de
eleições na Unidade Universitária da UEG de Porangatu fez emergir uma série de
embates entre os grupos políticos que disputavam o pleito na unidade. No
pleito, a disputa se deu entre os que queriam manter a atual gestão, e os que
defendiam uma mudança, a partir da eleição da candidata da oposição. Por conta
destes embates um grupo de professores resolveu escrever este texto, para
ilustrar e demonstrar, a partir de nossas experiências desde que chegamos na
Unidade, do porquê defendemos a necessidade e urgência na mudança da gestão.
Como esta mudança não foi efetivada no pleito eleitoral, o relato fica como
protesto e alerta para que a atual gestão repense suas práticas e, quem sabe,
tenhamos esperança de que se construa uma nova forma de administração por aqui.
1 – A Chegada
O contexto de nossa
chegada em Porangatu se deu a partir do concurso público realizado em 2010. Um
grupo de professores aprovados neste processo foram convocados e se
apresentaram entre os meses de agosto a dezembro deste ano na referida unidade.
Tal chegada não se deu sem provocar conflitos. Primeiramente porque tais
professores tiveram que pegar as disciplinas de professores que já estavam lá
há anos. Tivemos vários casos de coordenadores que tentaram ao máximo dificultar
a vida destes novos professores, negando passar-lhes as disciplinas para as quais eles haviam sido
aprovados e até colocando o horário com dias alternados (uma professora da
Geografia chegou a ter seu horário colocado com aulas na terça, quinta e sexta),
sabendo que vários destes professores viriam de outras cidades. Até ligarem
para professores concursados pedindo que eles não viessem para a cidade foi
feito. Tudo isto demonstrava as dificuldades que seriam enfrentadas pelos
professores que chegavam de fora dispostos a trabalhar e contribuir com a
Unidade. Tivemos que bater o pé para fazer valer nosso direito de pegarmos as
disciplinas para as quais havíamos feito concurso, e para que tivéssemos um
horário de aulas mais adequado.
2 – Assédio Moral
Logo começou a
transparecer a verdadeira hospitalidade porangatuense. Descobrimos que
perseguição, ameaças em salas fechadas e outras coisas eram práticas correntes
e comuns nesta unidade. Não demorou a descobrirmos que tudo o que fazíamos era
rigidamente vigiado. Para um professor da História, tal descoberta se deu
quando este foi chamado na sala da coordenação pedagógica para ser questionado porque
em um determinado dia havia liberado os alunos mais cedo. Entre outras coisas,
foi passado que ali na unidade haviam normas e este teria que se enquadrar
nestas normas, do contrário poderia sofrer as consequências (corte de pontos,
advertência, etc.). As ameaças eram claras. Na ocasião o professor ficou
extremamente irritado com tal fato, pois parecia que tal comportamento não era
condizente com um ambiente que se dizia universitário. Disse que não me
submeteria a tal tipo de ameaça, saiu da sala e foi direto à sala da direção,
falando-lhe que, se esta era a forma dela tratar os seus professores, este não
iria aceitar tal tipo de ameaça. Depois fomos saber que este não foi um caso
isolado, e que outros professores também foram chamados na sala da coordenação
pedagógica ou da assessora da direção para serem advertidos pelos mesmos
motivos. Ficava claro que a direção utilizava de seus assessores e pessoas
vinculadas a ela para perseguir e ameaçar seus professores. Em outra ocasião,
quando alguns professores foram enquadrados no regime de Dedicação Exclusiva
(D. E.), estes foram várias vezes chamados na sala da direção para serem
questionados a respeito de se e como estavam cumprindo a carga horária relativa
à D.E. O mais interessante, porém, era que tais cobranças não se davam para
outros professores, que já estavam há mais tempo na unidade. Vários deles
inclusive contavam com o benefício de faltar às aulas (especialmente as de
sábado), dando aulas apenas quando quisessem, e os mesmos não recebiam qualquer
advertência. Até mesmo em reuniões, cuja participação é obrigação de todo
professor, mas percebemos que haviam muitos que compareciam a sequer uma
reunião, sem que recebessem qualquer advertência por conta disto. Ou seja,
alguns professores eram cobrados em demasia, enquanto outros sequer eram
lembrados.
3 – O caso do ônibus
Outro caso relevante da
nossa trajetória e nossas experiências junto à gestão da unidade de Porangatu
foi o caso do ônibus da unidade. A prática corrente na unidade era que as
viagens de campo fossem pagas com dinheiro dos alunos. Eles deviam pagar o combustível
de acordo com a quilometragem da viagem; a diária do motorista, em valor por
ele estipulado; e uma taxa de manutenção do ônibus, que era estipulado em R$
0,50 por quilômetro rodado. Para receber este valor, havia uma conta bancária
aberta por uma funcionária (em seu próprio nome, ou seja, uma conta pessoal).
Logo começamos a questionar tais cobranças e demonstrar sua ilegalidade. Cobrar
dos alunos para uso de um bem público, e usar uma conta pessoal para isto, além
de imoral, poderia gerar problemas para a administração. Além disto, não havia
motivos para as cobranças, uma vez que a UEG conta com um sistema de diárias
para funcionários e professores, bastando para isto que seja solicitado com
antecedência; e o ônus pelo combustível e principalmente pela manutenção do
ônibus deve ser arcado pela UEG. Ao iniciarmos nossos questionamentos, pouco
fomos ouvidos e tais práticas permaneceram. Não encontrando respaldo na
unidade, resolvemos recorrer à administração central da UEG, e diversas vezes
fomos à Anápolis conversar com a Pró-Reitora de Gestão e Finanças para
denunciar e ao mesmo tempo verificar como poderia ser resolvido isto. Somente
após estas idas à Anápolis, a direção marcou uma reunião extraordinária para
decidir sobre o que seria feito a respeito do ônibus. A conta pessoal da
funcionária foi encerrada, e a direção colocou em pauta então o que poderia ser
feito a partir daquele momento. Ficou decidido que as diárias passariam a ser
solicitadas para a UEG, assim como o combustível das viagens; e a manutenção do
ônibus seria arcada pela unidade. Notem que apenas depois de um grupo de
professores ter ido à Anápolis a direção se preoucupou em tentar resolver a
mesma.
4 – A falta de
transparência
Na ocasião desse caso
do ônibus, aproveitamos para solicitar da direção as prestações de contas do
fundo rotativo e das despesas utilizadas pela direção. Alegávamos que deveria
haver mais transparência no uso da verba e que, inclusive, a comunidade
acadêmica pudesse participar da decisão de como e quando seria gasto tal
dinheiro. Sugerimos que fosse montado um conselho financeiro, com professores
dos vários cursos, responsável por fiscalizar e auxiliar a direção no gasto do
dinheiro. Tal sugestão nunca foi acatada, a direção passou apenas a colar nos
murais a prestação de contas do fundo rotativo e da verba do aluguel da cantina
e da Xerox, fato que durou apenas uns poucos meses.
5 – Problemas com o
motorista
Logo depois do problema
com o ônibus, e em decorrência dele, começamos a ter problemas com o funcionário
responsável por dirigir o ônibus. Em algumas viagens marcadas por professores
da História e da Geografia, o motorista se recusou a cumprir com os roteiros
estabelecidos, prejudicando o trabalho de campo elaborado pelos professores.
Além disto, o mesmo tratava de forma rude a professores e alunos que reclamavam
de seu comportamento. Um grupo de professores e alunos então se juntou e
reclamou à direção o fato, pedindo que fossem tomadas providências a respeito.
A direção alegou que iria advertir o funcionário, mas infelizmente tais
práticas continuaram. Vendo que o fato não se resolvia, reunimos um grupo de
professores e fomos até Anápolis registrar uma reclamação formal para o fato,
pedindo que fossem tomadas providências. Ao mesmo tempo um grupo de alunos se
reuniu e fez um abaixo assinado pedindo a saída do funcionário, alegando que
ele estava prejudicando às atividades, uma vez que ele se recusava a sair em
viagem sem ter recebido as diárias (posteriormente a pró-reitoria de gestão e
finanças mandou um ofício alegando que ele era obrigado a cumprir suas funções
mesmo sem ter recebido). A direção mais uma vez se esquivou do fato, e não foi
tomada providência alguma sobre isso. Mas o pior ainda estava por vir. Após um
professor reclamar do comportamento do motorista em uma rede social, o mesmo
registrou um processo judicial contra o professor por calúnia e difamação.
Frente a este fato, a direção, além de não intervir no caso afim de mediar os
conflitos e evitar que se chegasse às vias judiciais, ainda auxiliou o
motorista fornecendo os dados do professor para que fosse registrado o
processo. Algo que nunca imaginamos ser possível de acontecer em um ambiente
universitário se desenrolava diante de nossos olhos. Um funcionário que se
recusava a cumprir suas funções adequadamente e tinha a proteção da direção,
processava um professor que apenas exigia que fossem tomadas providências sobre
o problema. Recentemente descobrimos ainda que alguns professores continuam a
pagar as diárias do motorista de seu próprio bolso, fato que pode ser
considerado ilegal (receber dinheiro privado para realizar serviço público).
6 – Contratação ilegal
de professores
Recentemente tivemos
mais um capítulo nas lambanças e desastres cometidos pela direção desta Unidade
Universitária. Foi aberto um processo seletivo no curso de Geografia para duas
vagas: uma vaga para as disciplinas de
“Teoria do conhecimento” e “Estágio”, e outra vaga para a disciplina de
“Cartografia”. A formação da banca para a primeira disciplina, inicialmente,
foi formada pela coordenadora do curso e pela coordenação pedagógica. Em nenhum
momento foi discutido no colegiado do curso a formação das bancas, e quais
seriam os professores que participariam da mesma. A banca foi formada às
escondidas e nem a coordenadora de estágio (pessoa que, por ser o concurso para
a vaga de estagio, seria a mais indicada para participar do pleito) foi avisada
sobre a realização da mesma. Mesmo assim, a coordenadora de estágio ficou
sabendo do dia da banca e compareceu no dia, exigindo sua participação na
mesma. Conforme relatos da própria coordenadora, que retiramos de um processo
aberto por ela junto à Pró-Reitoria de Gestão, a banca possuía dois candidatos:
um era ex-aluno da unidade e tendo curso de especialização. O outro candidato vinha
de fora, e fazia mestrado na UFG. Durante a prova, ela alega que o primeiro
candidato cometeu muitos erros conceituais durante sua aula, o que demonstrava
falta de domínio sobre conteúdos básicos da Geografia. Mesmo assim, ela
percebia que tal candidato tinha a preferência das colegas, que tentaram de
todas as formas deslegitimar o segundo candidato, alegando fatores como “ele
ser de fora” ou “ele ser muito novo”, etc. Pelas notas atribuídas, o segundo
candidato acabou sendo escolhido e foi contratado. No entanto, descontente com
o resultado, a coordenadora do curso solicitou à UEG que fosse aberto mais um
contrato no curso para duas outras disciplinas, diferentes daquelas para a qual
o concurso havia sido aberto, e contratou o candidato que havia ficado em
segundo lugar no pleito. Ao saber do fato, a coordenadora de estágio questionou
como um professor poderia ser contratado para uma disciplina, tendo feito
concurso para outra disciplina diferente. Ao questionar na unidade tal fato,
ela foi chamada na sala da direção, onde estavam a diretora, a coordenadora do
curso e o comitê responsável pela contratação de professores (composto por
cinco pessoas, entre professores e técnico administrativos). Nesta reunião, a
professora foi repreendida por estar questionando tal processo de contratação,
inclusive sendo colocada à prova sua competência e legitimidade para questionar
tal situação. A referida professora, se sentindo ameaçada por tudo isto,
registrou os fatos em texto e protocolou uma reclamação formal no Radoc e na
Reitoria, processo que está aguardando resposta. Aliás, tal professora já teve
outros problemas na unidade por se opor às práticas desta direção e seus
asseclas. Uma delas foi quando a coordenação do curso e a direção se reuniram,
sem a presença dela e nenhuma consulta prévia, para decidir sobre a sua
retirada da disciplina de Estágio afim de beneficiar uma outra professora que
conta com a proteção da direção e que, aliás, com a desculpa de estar fazendo
mestrado, comparece à unidade apenas de 15 em 15 dias, mesmo tendo que cumprir
20 horas na unidade, com o conhecimento e consentimento da direção e da
coordenação do curso. Enquanto alguns professores tem benefícios, outros são
repreendidos. Como dizem, a norma que impera nesta unidade é “aos amigos tudo,
aos inimigos a lei”.
Conclusão
Como se vê, a sujeira e
a ilegalidade foram as marcas da atual gestão desta unidade universitária,
aliado à perseguição e ameaças a quem se revolta contra tais fatos. Todos estes
fatos aqui contados contém registros e provas, documentais e testemunhais, que
podem ser apresentadas a qualquer momento. A perseguição aos professores
tiveram muitos outros capítulos, como por exemplo a rejeição de um professor do
curso de História como coordenador de pesquisa, mesmo que este tivesse
qualificação acadêmica para isto, apenas por que tal professor era um dos que
reclamavam das ações da gestão na unidade. Aliás, tal professor acabou pedindo
sua transferência para outra unidade, pois não encontrava mais ambiente para
continuar trabalhando nesta. Enquanto alguns são perseguidos e ameaçados,
outros contam com todas as benesses por parte da direção. Esperamos que tal
relato sirva para exemplificar os vários problemas e dificuldades enfrentados
por alguns professores na UEG de Porangatu. Sabemos que não será possível mais
modificar tal quadro, uma vez que a eleição já teve resultado. Mas que pelo
menos sirva para que as pessoas envolvidas neste relato repensem sua prática e,
talvez, tenhamos uma administração mais transparente, justa e igualitária para
todos.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário