A greve foi conduzida pelo Movimento Mobiliza UEG, que nasceu sobre os escombros do extinto fórum de defesa da UEG, responsável pela greve de 2007, tendo assim como características a luta unificada da comunidade uegeana (alunos, professores e funcionários), caracterizada pela auto-organização, pela ação direta, autonomia e independência em relação a qualquer instituição, sendo feita e mantida pelos seus próprios participantes. Foi gratificante ver que alguns desses princípios foram também adotados por vários movimentos sociais que lutaram contra o aumento da passagem de ônibus, em todo o Brasil, no mês de junho, desencadeandonas ruas uma das maiores ondas de protestos já vivenciadas no país, mostrando a todos que a verdadeira política se faz na rua, com a pressão popular.
Nesse tempo de greve, as ações diretas promovidas pelo Movimento Mobiliza UEG foram responsáveis por colocar em evidência para toda a população goiana e brasileira os descasos e os abusos que o governo estadual vem tratando a educação pública superior em Goiás. No dia 24 de maio, houve a ocupação simultânea de quatro rodovias que cortam o estado, que mostrou ao governo a força do Movimento, que somente após essa ação, o reitor da UEG foi intimado a comparecer ao palácio do governo estadual para apresentar uma contraproposta às reivindicações do movimento. Outras ações de grande repercussão foram os cercos ao hotel onde a seleçãobrasileira de futebol ficou hospedada em Goiânia no início do mês de junho,realizados às vésperas da Copa das Confederações. Esses atos marcaram o primeiro protesto político da história contra os gastos do governo com a seleção brasileira, evidenciando,assim, as contradições dos gastos públicos e mostrando também que o povo brasileiro não vive só de futebol, expondo a disposição dos uegeanos em abrir mão da copa em prol dos investimentos em educação.
Por que lutamos na greve?
Para respondermos a essa pergunta, é preciso, antes de tudo, observarmos as reais condições em que estão qualquer aluno(a), professor(a) outécnico(a) administrativo(a) da UEG. Em qualquer unidade da UEG,podemos constatar a brutal precarização das condições de trabalho e estudo.Por exemplo, no caso dos professores da UEG, os efetivos atualmente são 822 no total, os demais 1.300 são temporários que, além de precarizados, não recebem um salário igual ao efetivo pela mesma função desempenhada, e não recebem nenhumdireito trabalhista ao serem demitidos.
As péssimas condições salariais, somadas à falta de livros e laboratórios tornam-se um dos maiores problemas para os docentes ministraremsuas aulas. Para os alunos as péssimas condições dos campi, a falta de professores, a inexistência de políticas de assistência estudantil, como ausência de casas de estudantes, restaurantes universitáriose ainda o número insignificante de bolsas, são problemas graves que refletem na própria formação discente e provoca entraves para a permanência do estudante na Universidade, tendo como consequência maior os altíssimos índices de evasão nos cursos, deixando os alunos que estudam na UEG completamente indignados. A eleição de um reitor efetivo e doutor não modificou em nada a submissão do cargo aos desmandos dos governadores, haja vistasque com toda essa crise o governo ainda insiste com sua política eleitoreira de expansão da UEG em pelo menos mais três unidades, e ainda com o apoio e aval da própria reitoria.
O inacreditável ainda é o reitor assumir publicamente que o valor de 2% da arrecadação do estado repassado pelo governo(percentual este nuncaenviado integramente para UEG) é insuficiente para manter a Universidade, e ao mesmo tempo não fazer nenhum esforço a fim detentar mudar esta triste realidade. Para piorar esse quadro, mal a greve terminou o governar publicou um decreto criando mais 50 cargos comissionado na UEG com salários superiores aos dos professores com as maiores titulações. A política estudantil não foi concretizada sob a alegação de falta de recursos. Isto equivale a dizer que ela onera os cofres da UEG? Para custear os novos cargos comissionados os 2% são suficientes e não onera o orçamento? Sem contar os escândalos envolvendo o alto escalão do governo com a supervalorização de um curso na França em que a Vice-reitora da UEG estava cotada. Para isto o estado tem recurso?
O que conseguimos com a greve?
Além da aprendizagem obtida com a própria luta, tivemos também ganhos históricos como a aprovação do novo plano de cargos e salários para os docentes, que, após ter tramitado entre a reitoria e o governo por mais de dois anos, e, por fim, ser arquivado, com dois meses de mobilizações nas ruas o mesmo foidesengavetado, votado e aprovado na assembleia legislativa e posteriormente sancionado pelo governador. A escolha de uma pauta unificada permitiu uma maior aproximação entre alunos, professores e funcionários, criando uma relação de horizontalidade, de igualdade e de democracia. No entanto, deve-se ressaltar a atitude de uma minoria de funcionários da UEG, que resolveram, de forma arbitrária e sem consultar os demais participantes do movimento, negociar às escondidas um reajuste salarial com a reitoria, recebendo a promessa de aumento de 17,7%, inferior ao alcançado pelo movimento ao final da greve (21,38%),demonstrando assim uma postura autoritária, unilateral e fragmentária dos sujeitos envolvidos. O movimento organizou também Grupos de Trabalho como forma de conceber, sistematizare discutir as políticas de assistência estudantl, que terão continuidade por meioda realização dos fóruns regionais dos estudantes no ano de 2013.
E por que continuar?
O Movimento Mobiliza UEG tem seu sentido na capacidade de ação contra as políticas governamentais aceitas pela reitoria e por condições de trabalho e estudo satisfatórias, mostrando claramente a quem está servindo. Nesse sentido, o Movimento existe com seus princípios de auto-organização, não institucionalidade e de ação direta, onde se mostrouque é possível lutar usando outras formas de organização para além dos modelos tradicionais existentes. As assembleias do movimento mostraram claramente a horizontalidade das relações, onde o peso das categorias era sempre o mesmo, ou seja, alunos, professores e funcionários ocupando uma posição de igualdade, já que não haviadiferenças nas votações ou no tempo de fala em relação aos participantes, seja em função de cargos ocupados ou de suas condições dentro da universidade. Tal forma de organização é um dos grandes avanços na formação política da comunidade uegeana, em que pese as críticas a essas formas experimentais de luta. As conquistas, as vitórias alcançadas e o alto grau de incômodo provocado junto às estruturas de poder do estado demonstram que esse é um caminho. Através desse modelo adotado pelo movimento, demonstrou-sesua força e eficiência na conquista de vários itens da pauta proposta e também no desmascaramento das estruturas de poder vigentes na própria universidade. Ainda temos muitos motivos para continuar a lutar:
• Quais passos a reitoria deu em direção à concretização da política de assistência estudantil?
• Sobre a realização dos concursos para professor (250 vagas) e funcionários administrativos: quais providências já foram tomadas?
• E o reajuste de 21,38% para professores e funcionários (7,08% em 2013 e 13,38% até julho de 2014) já foi encaminhado pela reitoria ao governo para aprovação pela Assembleia Legislativa?
• E a solicitação da verba complementar para viabilizar a Política estudantil, já foi encaminhada ao governo? Que resposta ele deu?
• E os estudos para viabilizar a equiparação dos salários dos professores e funcionários temporários com o dos efetivos: quando serão concluídos?
• E as obras da ESEFFEGO e de outras 9 unidades sob responsabilidade da AGETOP estão sendo realizadas?
• A FUNCER já devolveu os 10 milhões desviados da UEG?
• O documento solicitando aos diretores das Unidades a apresentação das suas demandas por infraestrutura já foi encaminhado?
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