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O Movimento Mobiliza UEG consiste num movimento unificado de professores, estudantes e funcionários técnico-administrativos da Universidade Estadual de Goiás, espontâneo, independente, não institucionalizado, não hierarquizado e que adota como estratégia de atuação a ação direta. Seu objetivo é intervir no processo de construção da UEG com a finalidade de torná-la, de fato, uma universidade pública, gratuita, autônoma e democrática, capaz de cumprir o seu papel enquanto instituição de educação superior, produtora e socializadora de conhecimentos que contribuam para o bem-estar da sociedade goiana, em particular, da sociedade brasileira, em geral, e, quiçá, de toda a humanidade, primando pela qualidade reconhecida social e academicamente.
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quinta-feira, 4 de julho de 2013
RELATO DA PRISÃO - Carta do professor da UEG UnU Goiás que foi agredido e preso por manifestar no FICA - prof. Robson de Sousa Moraes
RELATO
DE MINHA PRISÃO
ROBSON
DE SOUSA MORAES
(Professor
da Universidade Estadual de Goiás)
Aos dois dias do mês de julho do corrente ano participei de
manifestação organizada pelo movimento de greve da Universidade Estadual de
Goiás (UEG), Professores e Estudantes da Universidade Federal de Goiás (UFG),
Estudantes Secundaristas e moradores da Cidade de Goiás. A concentração da
manifestação iniciou-se as 19:00hs na praça do Chafariz, logo após a chegada
dos primeiros manifestantes, algumas viaturas da polícia militar estacionaram
próximo aos manifestantes. Alguns minutos depois policiais militares a paisana
foram, por nós identificados, infiltrados entre os manifestantes. Por volta das
20:30hs iniciamos o que denominou-se uma “marcha fúnebre” das promessas de
campanha não executadas pelo atual governador do estado. Ao caminharmos uma
centena de metros nos deparamos com uma barreira da polícia militar que impediu
nossa passagem. Algumas pessoas que participavam da passeata (marcha fúnebre),
expressaram pelo microfone de um carro de som seu descontentamento com a
postura da PM e a marcha seguiu seu curso por outro caminho, agora ampliada por
centenas de moradores que aderiram ao protesto. Caminhando pelas ruas, vielas e
becos da histórica Vila Boa, evitando as barreiras policiais, e já sem o carro
de som e utilizando megafone e amplificador portátil, chegamos próximo ao
Palácio Conde dos Arcos, local da abertura oficial do Festival Internacional de
Cinema Ambiental (FICA), onde nos deparamos com mais uma barreira policial,
esta reforçada pelo policiamento de farda preta (CPT). Em frente ao Palácios proferimos
inúmeras “palavras de ordem” em favor da melhoria do atendimento à saúde e pela
qualidade da educação, entre outros temas, denunciamos as promessas não
cumpridas pelo governo do estado, bem como seu envolvimento com o “bicheiro”
conhecido como carlinhos cahoeira. Neste momento, fomos interpelado pelo
Oficial da polícia militar Coronel Moura, que nos informou que estava “sendo
pressionado para evacuar a área” e que este pretendia faze-lo sem o uso da
força e da violência. Explicamos ao coronel que a manifestação não dispunha de
nenhuma liderança que estabelecesse uma ordem de dispersão ou outra ordem que
fosse e que necessitaríamos de tempo para dialogar com os participantes do
protesto. Em rápida conversa coletiva ficou decidido que não iríamos sair do
local e nos manteríamos ali de forma pacífica e para demonstrar tal intenção
ficaríamos todos sentados. Segundos após sentarmos avistamos o pelotão de
choque da pm em rápido deslocamento, o que já assustou algumas pessoas,
provocou inquietação e iniciou uma correria. Surpreendentemente alguns
policiais avançaram sobre o caixão utilizado pelo protesto tentando extraí-lo dos manifestantes,
o mesmo ocorrendo com as faixas, cartazes, megafone e amplificador. Deflagrada
a violência policial que usou e abusou de spray de pimenta e cassetetes, vários
integrantes do protesto foram deliberadamente agredidos e detidos
arbitrariamente, sem nenhuma acusação formal ou informalmente apontada. Neste
instante, presenciando a agressão de policiais que vitimava um estudante
secundarista, tentei ajuda-lo puxando seu corpo para fora da roda de policiais
que lhe aplicavam chutes, socos e golpes de cassetete, minha tentativa foi
frustrada, pois fui, atacado pelas costas por um golpe de “gravata”, que
desequilibrou meu corpo. Instantaneamente fui cercado por vários outros
policiais que de forma truculenta, desrespeitosa e com uso desmedido e
desproporcional de força mesmo sem qualquer esboço de reação de minha parte.
Fui algemados com as mão nas costas e com a mesma truculência encaminhado para
a parte de traz da Igreja Matriz, onde fui forçado a sentar no chão cercado por
policiais. Presenciei a chegada de várias pessoas algemadas e machucadas, entre
elas o Professor Alexandre da UFG, o Estudante Bruno da UEG e o Estudante secundarista
Diogo. Mesmo após a tentativa de advogados argumentar a inexistência da
necessidade de manternos algemados a pm assim nos manteve. No momento em que
fui levado a viatura policial os advogados tentaram argumentar, que não
haveria, também, a necessidade de sermos conduzido no porta malas da viatura
(um carro do tipo gol), pois não oferecemos em momento algum qualquer tipo de
resistência. Tal sugestão se quer foi ouvida e de forma agressiva fui empurrado
para o porta mala da viatura ouvindo claramente o comentário sarcástico do
policial: “vou te mostrar o direito do professor na constituição”, uma clara
retaliação a várias intervenções feitas no microfone da passeata, onde
clamávamos pela execução e garantia do legítimo direito constitucional de
manifestação.
Na delegacia de policia fiquei, com outros companheiros, por
horas algemado com tentativas da sargento pm de retirar advogados do recinto,
com o intuito de nos manter isolados e sem atendimento jurídico até ser ouvido
pela polícia civil e em seguida liberado. Perdi a noção de tempo, mas já se
fazia alta madrugada quando fui liberado. Ainda continuo desconhecendo o motivo
de minha detenção, nada me foi alegado, o que me faz levar em consideração a
hipótese que no estado de Goiás, o estado de direito e a carta constitucional
são letras mortas. Vivemos em um estado de sítio não declarado, o que ocorreu
comigo é uma pequena demonstração do que se repete diariamente com a juventude
pobre da periferia, mais violentada ainda, por não disporem de atendimento jurídico,
apesar da lei determinar.
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