Da Ocupação Eseffego ao reitor da Universidade
Estadual de Goiás, Haroldo Reimer
Goiânia, 12 de novembro de 2016.
Caro reitor,
sua atitude no processo 5290460.23.2016.8.09.0051 concretiza a quebra total de
confiança de nós, alunos do campus Eseffego, ante o senhor. O senhor agiu de má-fé ao
compactuar com texto tão calunioso sobre um movimento legítimo e horizontal sem
precedentes na história da Universidade Estadual de Goiás.
A história não o perdoará. Nós não o perdoaremos. Ocupamos nossa faculdade em
assembleia legítima, documentada em ata, no dia três (03) de novembro de 2016.
Ratificamos a ocupação, no dia 10 de novembro de 2016, com a presença de 260 alunos,
e documentamos em ata.
O que comprova a falta de verdade do seguinte trecho presente no processo movido pela
reitoria: “os réus vêm ocupando o imóvel público em questão (...), tendo-o invadido
clandestinamente, sem justo título”.
Como nossa ocupação pode ser considerada uma invasão? Como pode questionar a
legitimidade da ocupação? Como o senhor, reitor, é capaz de tantas mentiras? Tal
postura nos faz questionar se o senhor tem capacidade ética para continuar no cargo de
reitor da Universidade Estadual de Goiás.
Nossa causa é de suma importância à educação do país. Nos mobilizamos para evitar as
medidas de austeridade que vão afetar as áreas sociais da Saúde, da Educação e da
Assistência. É uma luta imprescindível para o futuro da nação.
Nossa causa é de suma importância ao curso de Licenciatura em Educação Física. A
reforma do ensino médio proposto pelo governo federal via medida provisória mecaniza
o ensino e transforma as salas de aula em laboratórios de McDonaldização.
Por isso, o trecho a seguir, presente no processo, também não condiz com a verdade:
“(...) o movimento está indo de encontro à própria educação”.
Nossa causa é de suma importância para a reforma da Eseffego. Nosso campus está
caindo aos pedaços. Desde a construção, nunca passou por reforma geral. Somos uma
das instituições de ensino superior mais antigas de Goiás. Já fomos uma das melhores do
Brasil. Nosso prédio está em ruínas - é literal. Pedaços das construções saem nos nossos
pés; há risco de desabamento.
Nós, alunos, vivenciamos a Eseffego e sabemos que não há reformas em andamento.
Existem conversas jogadas ao vento e projetos sempre postergados. O que prova que a
assertiva a seguir, presente no processo, é falsa e tenta nos colocar como empecilho para
a tão esperada reforma do campus: “(...) a UEG está às vias de deflagrar processo de
reforma do prédio na área ilicitamente ocupada, de modo que recursos públicos já foram
e ainda serão empregados para garantir o pleno acesso à Educação Superior”.
Somos um movimento social organizado, reitor. Nesses dez dias de ocupação, recebemos
o depoimento do diretor administrativo da Eseffego: “Nunca vi o campus tão bem
cuidado em minha vida”.
O que contradiz o seguinte trecho do processo: “É preciso tomar atitude (...)sob pena de
dilapidação do patrimônio público, sem contar a possibilidade de se culminar em
violência”.
Somos um movimento social organizado. Realizamos mais de 20 oficinas, rodas de
conversas e palestras para a formação dos ocupantes. Reaviamos a rotina cultural e
o lócus de convivência extraclasse há muito tempo esquecido na Eseffego.
As refeições coletivas - que o senhor jamais será convidado, por trair a comunidade
acadêmica – estreitaram as relações de todos os envolvidos. Vivemos nesses dez dias
harmoniosamente, resolvendo conflitos e pensando coletivamente.
Não somos sabujos de ninguém! Respeite-nos. Não estamos sob clara “influência
externa”, como aponta o ardiloso processo. Nossa autogestão é exemplar e apoiamos
outros movimentos de ocupação, principalmente campus da Universidade Estadual de
Goiás. Atente-se: a universidade é nossa!
O diretor do campus Eseffego, na presença do pró-reitor de Extensão, Cultura e Assuntos
Estudantis da UEG, Marcos Torres, e de nós, alunos, elogiou o movimento e ressaltou o
caráter formativo da ocupação. O que também anula as infundadas denúncias de desvio
de função do espaço público.
Nossa formação, caro reitor, está em constante processo. Aqui vivenciamos aulas, lições
e debates impossíveis num movimento formal. Estamos vivenciando processos não
formais de educação, compreendidos muito além das dimensões curriculares de
aprendizagem.
“O patrimônio natural e científico e os processos culturais e educativos não podem estar
subordinados ao mercado e ao capital, mas ao conjunto de direitos que configuram a
possibilidade de qualificar a vida de todos os seres humanos”, nos explica Gaudêncio
Frigotto, no livro Educação e crise do trabalho: perspectiva de final de século, de 2002.
Afirmação que desconstrói o pensamento retrógrado contido nesse trecho do processo:
“com a paralisação dos campus, os professores não podem ministrar suas aulas,
ocasionando atraso no calendário acadêmico”.
A educação, caro reitor, é elemento crucial no processo de emancipação da classe
trabalhadora. Nossa ocupação, condenada pelo senhor, caro reitor, é culpada por
verticalizar o processo educacional a limites nunca antes vistos na história da
Universidade Estadual de Goiás.